A esquerda pode ser feliz?
É a pergunta que Ross Douthat levanta num op-ed publicado semana passada no NYTimes.
“O temperamento de esquerda é, por natureza, mais infeliz do que as alternativas moderadas e conservadoras”. Por que? Ross Douthat , colunista do NYTimes, vê no descontentamento a raiz da política revolucionária.
“O desejo de pegar as realidades do mundo e transformá-las em algo melhor estará sempre ligado a menos gratidão serena e mais coceira de insatisfação”, ele escreve.
Douthat argumenta que nem sempre a esquerda esteve tão desiludida. A direita ficou mais radical e a esquerda mais deprimida a partir de 2013, ali pelo segundo governo Obama (o que no Brasil foi o início da ladeira abaixo com a direita reacionária saindo do armário).
Antes, a esquerda do século XX tinha duas âncoras de otimismo: o cristianismo socialista que “impregnou o movimento pelos direitos civis” e a convicção marxista que acreditava numa utopia secular.
“Conheço muita gente na esquerda que acha que Marx estava certo sobre as contradições do capitalismo; conheço muito menos gente que compartilha sua expectativa de que a dialética resultará em um paraíso dos trabalhadores”, diz Douthat.
“Em vez disso, há um medo de que quando o capitalismo colapsar vai nos levar junto, um sentimento de que deveríamos estar “aprendendo a morrer” à medida que a crise climática piora”, continua.
O fator geracional também conta. Há o excesso de tela com a invenção dos smartphones. Mas o que explica que quanto mais à esquerda mais deprimidos estão os jovens? “Você não estaria se estivesse crescendo em meio a “tiroteios em escolas e aumento da agitação devido à discriminação racial e sexual e da violência?”
Sem a crença no Divino nem socialismo científico, sobra aos jovens a tentativa de lidar com as batalhas da saúde mental em consultas médicas e terapia.
“Parece ser onde uma boa parte da esquerda americana se encontra hoje: sem conforto nem em Deus, nem na história e esperando que a terapia possa ocupar este lugar”.
Mais leituras:
O op-ed completo do Ross Douthat está aqui em inglês no NYTimes.
Outro texto do autor que vale a leitura é “Como a Direita se Tornou Radical e a Esquerda se Tornou Deprimida”. Em inglês aqui.
Aqui um livro que ele cita na coluna: A Geração Ansiosa: Como a grande reconfiguração da infância está causando uma epidemia de doenças mentais.
E uma resenha do livro acima que saiu na Nature: “As evidências são equívocas quanto a se o tempo de tela é o culpado pelo aumento dos níveis de depressão e ansiedade em adolescentes — e a crescente histeria poderia nos distrair de enfrentar as causas reais”.